
Leila Pereira é uma empresária de sucesso e a primeira mulher a presidir o Palmeiras, um dos clubes mais tradicionais do Brasil. Seu nome está fortemente ligado ao investimento no futebol, mas quando se trata do futebol feminino, sua gestão ainda não reflete o potencial que poderia ter. Neste aspecto, há muito que ela poderia aprender com Michele Kang, uma empresária americana que vem revolucionando a modalidade globalmente.
Michele Kang: Uma Visão Estratégica para o Futebol Feminino
Antes de entrar no esporte, Kang construiu uma carreira brilhante no setor de tecnologia e saúde como fundadora e CEO da Cognosante. Seu olhar estratégico e inovador a levou a enxergar no futebol feminino um setor cheio de oportunidades – mas que precisava de investimentos e de uma gestão profissional para crescer.
Em 2022, Kang adquiriu o Washington Spirit, clube da National Women’s Soccer League (NWSL), e promoveu uma revolução na equipe. Seu investimento não foi apenas financeiro, mas estrutural: ampliou recursos para as jogadoras e a comissão técnica, fortaleceu a identidade do clube e implementou um modelo de alta performance. O impacto de sua gestão foi tão grande que ajudou a elevar o nível da liga como um todo, atraindo mais investidores e credibilidade para o futebol feminino nos Estados Unidos.
No ano seguinte, Kang deu mais um passo ousado e adquiriu o Olympique Lyonnais Féminin, o clube feminino mais vitorioso da Europa. Sua visão vai além do sucesso individual de cada equipe: ela busca integrar os clubes sob sua gestão e criar um modelo global de desenvolvimento para o futebol feminino, no qual talentos possam circular entre ligas e mercados de forma estratégica.
Além disso, sua contribuição financeira para o esporte foi histórica. Em 2024, Kang doou US$ 30 milhões (aproximadamente R$ 173 milhões) para a Federação de Futebol dos Estados Unidos (US Soccer), o maior investimento já feito na história da organização para programas de futebol feminino. Essa doação está sendo distribuída ao longo de cinco anos para fortalecer o desenvolvimento de jovens atletas, treinadoras e árbitras, promovendo a profissionalização da modalidade.
O Que Leila Pereira Pode Aplicar ao Palmeiras?
Leila Pereira tem influência e poder financeiro para transformar o futebol feminino do Palmeiras – e do Brasil – assim como Kang fez nos Estados Unidos e na Europa. No entanto, sua gestão ainda parece enxergar a modalidade como secundária, e não como uma oportunidade estratégica para o clube.
Na estreia do Palmeiras no Brasileirão Feminino, por exemplo, a falta de envolvimento da presidente ficou evidente. O jogo foi marcado para um sábado às 21h, um horário ruim para o público, e Leila não questionou ou tentou mudar isso. Além disso, o time segue jogando em Barueri, um local de difícil acesso para os torcedores, e o clube não tomou nenhuma iniciativa para fretar ônibus e facilitar a presença da torcida. O resultado? Um estádio vazio, um reflexo da falta de visão sobre o que o futebol feminino pode representar para o clube.
Se Leila quisesse transformar o Palmeiras em referência no futebol feminino, ela poderia seguir alguns passos estratégicos inspirados na gestão de Michele Kang:
1. Investir na Infraestrutura e na Base
Kang entende que o futebol feminino precisa de um projeto de longo prazo. No Palmeiras, há uma equipe forte, mas falta um investimento sólido na base e na formação de novas jogadoras. Sem isso, o clube não constrói uma cultura de desenvolvimento e perde a chance de ser referência no futuro.
2. Criar um Modelo Sustentável
Ao invés de ver o futebol feminino como um gasto, Leila poderia enxergá-lo como um mercado em crescimento. O mundo já percebeu que há público e investimento disponível para a modalidade. O Palmeiras poderia liderar essa revolução no Brasil, mas, para isso, precisa criar um plano de negócios sustentável e atrair patrocinadores de peso.
3. Garantir que as Jogadoras Sejam Valorizadas
Kang fez questão de melhorar as condições de trabalho e infraestrutura para suas jogadoras. No Palmeiras, ainda há uma grande disparidade entre a estrutura do masculino e do feminino. Um clube que quer ser referência precisa garantir que suas atletas tenham condições de alto nível para competir e evoluir.
4. Engajar a Torcida
A torcida do Palmeiras é apaixonada e engajada. Mas como criar uma cultura forte para o time feminino se os jogos são colocados em horários ruins e em locais de difícil acesso? Leila deveria usar seu poder e influência para garantir melhores condições para o público e criar ações de engajamento, como Kang fez no Spirit e no Lyon.
Conclusão
Michele Kang está redefinindo o futebol feminino com investimentos estratégicos e visão de longo prazo. Seu trabalho prova que a modalidade pode – e deve – ser tratada como um grande negócio.
Leila Pereira tem todos os recursos necessários para tornar o Palmeiras um modelo de sucesso no futebol feminino, mas para isso precisa mudar sua abordagem. O investimento vem antes do lucro. A construção de um projeto sólido e bem estruturado trará resultados sustentáveis no futuro.
O Palmeiras pode continuar como um coadjuvante na evolução do futebol feminino – ou pode se tornar referência e liderar essa transformação no Brasil. Cabe à Leila decidir qual legado quer deixar.
É decepcionante ver que Leila, uma empresária de sucesso, parece mais preocupada em reforçar sua posição de poder do que em realmente impulsionar o futebol feminino. Esperava-se que, como liderança feminina no esporte, ela fosse uma voz ativa na valorização da modalidade, mas sua postura mostra o contrário.