
Por Suleima Sena
Outro dia vi o anúncio de uma vaga para executiva em um clube de futebol brasileiro no Linkedin e uma pergunta me atravessou: quantas mulheres se candidataram?
Mais do que isso — quem fará a seleção?
Essa pessoa, seja homem ou mulher, está realmente disposta a considerar uma mulher no comando? Essas questões não são retóricas. São sintomas de um cenário excludente que se perpetua com naturalidade. Porque quando se fala em gestão no futebol, a porta continua entreaberta — e, muitas vezes, com uma tranca invisível que só se revela quando uma mulher ousa tentar entrar.
A estrutura do futebol brasileiro ainda é predominantemente masculina, tanto na mentalidade quanto na ocupação de cargos. Pouquíssimas mulheres fazem parte dos conselhos administrativos dos clubes.
Os cursos de gestão, embora estejam se popularizando, ainda não são acessíveis para muitas de nós.
Os valores são altos, a rotina exige disponibilidade integral e o incentivo das instituições esportivas para ampliar a presença feminina é praticamente nulo.
Estou cursando atualmente uma formação na area de gestao de futebol.
Na minha turma, somos 12 mulheres — o maior número da história do curso. É um avanço, sem dúvida. Mas a pergunta que ecoa entre nós é: quantas conseguirão, de fato, ingressar nos clubes e Instituições ao final dessa formação?
A maioria dos cargos segue ocupada por homens que, mesmo quando competentes, ainda reproduzem uma lógica de exclusão e resistência à diversidade.Não falta vontade às mulheres. Falta oportunidade. Falta estrutura. Falta um ecossistema que nos queira não apenas como bandeira de inclusão, mas como parte efetiva do sistema de decisão, de gestão, de transformação.
Diz-se por aí que o futuro é feminino — e eu acredito. Mas esse futuro só será possível se as decisões de hoje forem tomadas com coragem, com consciência e com responsabilidade. O futebol precisa entender que nos incluir não é um favor: é uma urgência.
Não queremos ser exceção. Queremos ser parte.