O clássico entre Hamburger SV e Werder Bremen levou 57 mil pessoas ao Volksparkstadion. Um recorde histórico de público na Alemanha.
Mas, mais do que um número isolado, este evento é um recado direto ao mercado e à gestão esportiva global.
A pergunta que o Brasil e o mundo precisam fazer não é “como isso aconteceu?”, mas sim: o que esse movimento na Alemanha sinaliza sobre o futuro do futebol feminino e o que podemos aprender com essa estratégia vitoriosa.
1. Quando os Grandes Estádios se Abriram, o Público Apareceu
A Alemanha tomou uma decisão crucial: nada de CTs improvisados ou arquibancadas secundárias.
A estratégia foi ocupar as grandes arenas da Bundesliga masculina, oferecendo à Frauen-Bundesliga a mesma experiência de espetáculo e conforto que o jogo de elite merece.
E a resposta veio em massa.
Palco grande gera percepção grande. E percepção grande gera demanda.
A simples mudança de local eleva a percepção de valor do produto, transformando o jogo de um evento casual em um espetáculo imperdível.
2. Derby + Narrativa: A Força de um Produto Estruturado
A cultura do futebol feminino é antiga e profunda na Alemanha. Não é um fenômeno novo: o país é bicampeão mundial e oito vezes campeão europeu. Essa tradição estabelece:
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Identificação: Fãs com memórias e heroínas.
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Respeito: Confiança na qualidade técnica.
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Confiança no Produto: O público sabe que verá um jogo de alto nível.
Com a modernização da liga, tudo refloreceu. O jogo entre Hamburgo e Werder Bremen não foi tratado como uma simples formalidade, mas sim como um grande evento estruturado:
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Estratégia digital maciça.
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Preços de ingressos acessíveis.
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Foco no envolvimento de famílias.
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Ações em escolas e comunidades.
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Criação de uma atmosfera acolhedora e inclusiva.
A narrativa certa mobiliza. E o feminino depende — e cresce — com boas narrativas.
3. O Perfil do Novo Fã: Jovem, Diverso e Orientado a Propósito
A análise do público nos estádios alemães é reveladora: não se trata de um público que migra do masculino.
É um público novo, que está redefinindo o consumo esportivo na Europa.
Este torcedor busca ativamente:
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Segurança no ambiente do estádio.
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Pertencimento a uma comunidade.
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Representatividade em campo.
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Um ambiente inclusivo e familiar.
O futebol feminino oferece um espaço que transcende a bola, conectando-se com valores de propósito e inclusão.
4. Profissionalização Real e Investimento da DFB
Crescimento não é espontâneo; é resultado de gestão estratégica.
A Frauen-Bundesliga acelerou as exigências estruturais desde 2022. Em 2024, a DFB (Federação Alemã de Futebol) deu um passo decisivo: novo ciclo de investimento dedicado ao Futebol Feminino. Isso significa ampliação de recursos para:
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Categorias de base.
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Formação de treinadoras.
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Centros de treinamento.
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Infraestrutura.
O resultado é uma cadeia de valor positiva: Mais credibilidade, mais interesse, mais marcas, mais público.
O Que Tudo Isso Revela?
O sucesso alemão é a prova de que o futebol feminino não está apenas “crescendo”. Ele está se reposicionando no ecossistema esportivo global.
A fórmula que funcionou na Alemanha foi a combinação de tradição (títulos, história) com modernização (estratégia, investimento e narrativa de alto impacto).
Países que entenderem essa dinâmica e tiverem a coragem de abrir grandes arenas, investir na base, tratar o feminino como um produto premium e estruturar narrativas fortes, vão liderar a próxima década.
Foto: Getty Images




