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Equipes da Taça Cidade de São Paulo 2025 denunciam desigualdade de tratamento entre masculino e feminino

As equipes femininas que disputaram a Taça Cidade de São Paulo 2025 divulgaram, nesta semana, uma nota de repúdio conjunta denunciando desigualdade de tratamento, falhas de gestão e falta de prioridade da categoria em relação ao masculino.

O documento, assinado por atletas, comissões técnicas, clubes e projetos sociais ligados à formação feminina, reúne uma série de episódios que, segundo as signatárias, revelam disparidades estruturais em uma das principais competições de base do estado.

Cancelamento de rodada feminina no dia da partida

De acordo com o documento, mais de oito equipes foram surpreendidas, no dia 9 de agosto, com o cancelamento da rodada somente no momento da partida, com atletas e comissões já posicionadas em campo após deslocamento e organização logística.

A justificativa apresentada pela organização teria sido um conflito de horários com jogos masculinos marcados para o mesmo local e horário, conflito não identificado previamente no planejamento.

Para as equipes, o episódio reflete falhas de gestão e negligência com a categoria feminina.

Local das finais: masculino no Pacaembu; feminino no Ceret

Outro ponto citado pelas equipes diz respeito à escolha dos locais das finais da Taça SP. Segundo a nota:

  • Todas as finais masculinas foram disputadas no Estádio do Pacaembu, tradicional palco do futebol brasileiro, com ampla visibilidade e estrutura de transmissão;
  • a partida de 3º lugar do masculino também ocorreu no Pacaembu;
  • já a final feminina foi realizada no Ceret, equipamento esportivo reconhecido, porém distante do peso simbólico e da projeção midiática do Pacaembu.

As equipes afirmam que essa diferença reforça a falta de equidade entre as categorias.

Caravanas e ações promocionais: visibilidade concentrada no masculino

A nota também apresenta dados sobre disparidades nas ações de promoção do evento.

Segundo o levantamento: Foram realizadas 13 caravanas masculinas, todas com transmissão ao vivo, ativações de marca, tenda gamer, futebol de botão, distribuição de alimentos, narração oficial e cobertura fotográfica completa;

no feminino, ocorreram apenas duas caravanas, sem estrutura equivalente; a caravana no CT Santa Cruz, dedicada exclusivamente às meninas, não foi registrada pela organização;

em três meses de competição, não houve nenhuma caravana exclusiva para a categoria além da ação não registrada, apenas uma caravana mista.

Para as equipes, essa disparidade compromete a visibilidade da modalidade e a documentação histórica da formação esportiva das meninas.

Entre as representantes que contribuíram para a construção da nota, Nath Servadio, coordenadora do projeto Meninas em Campo, reiterou que os problemas são estruturais:

“A sensação foi de desvalorização. Em um torneio que deveria formar e inspirar futuras jogadoras, fica evidente que o futebol para meninas e jovens ainda não recebe o mesmo respeito e prioridade que o masculino.”

Ela também relatou problemas vividos no dia das finais femininas:

“No dia que deveria ser delas, colocaram as disputas de 3º e 4º lugares do masculino. A final do Sub-15, marcada para 14h, começou às 15h, e não tivemos nem 10 minutos de aquecimento com bola. Já a final do Sub-17, marcada para 15h, começou às 17h30. Além disso, as finais femininas ficaram espalhadas, quando poderiam ter sido organizadas em um único dia dedicado à modalidade.”

Organização não respondeu até o fechamento

Até a publicação desta reportagem, a organização da Taça Cidade de São Paulo não havia se manifestado sobre os questionamentos apresentados pelas equipes femininas.

NOTA DE REPÚDIO NA ÍNTEGRA

 

Organizações Representantes das Finais da Taça SP Feminina 2025

Nós, equipes, atletas e organizações que atuam no fortalecimento do futebol feminino, manifestamos nosso repúdio diante da profunda desigualdade de tratamento entre o masculino e o feminino na Taça SP 2025.

Os dados da própria competição revelam um padrão contínuo de negligência, falta de prioridade e desrespeito com a formação das meninas  um retrato claro das desigualdades de gênero ainda presentes na modalidade.

Abaixo, apresentamos os principais pontos que evidenciam essa disparidade:

Cancelamento da rodada feminina – 09/08

Mais de 8 equipes femininas foram informadas do cancelamento da rodada somente na hora, já no campo, após deslocamento, planejamento e gasto de tempo e recursos.

O motivo do cancelamento expôs algo ainda mais grave: havia rodada de jogos masculinos de equipes locais marcada para o mesmo dia e horário, e a organização não identificou o conflito de datas.

Um erro de gestão que demonstra o descaso estrutural com a categoria feminina.

Local das finais – Pacaembu x Ceret

O masculino disputou todas as finais no Estádio do Pacaembu, palco histórico do futebol paulista, com toda a visibilidade e estrutura associadas ao local. A disputa de 3º lugar do masculino também aconteceu no Pacaembu.

Já o feminino teve sua final colocada no Ceret, espaço destinado às decisões de menor visibilidade do masculino. Embora relevante para o esporte, o Ceret não possui a magnitude histórica, simbólica ou estrutural do Pacaembu.

A escolha reforça a mensagem: mesmo em momentos decisivos, o feminino não recebe o mesmo valor, respeito ou projeção.

Caravanas – Visibilidade concentrada no masculino

Foram 13 caravanas masculinas, todas com registro, divulgação e ativações completas: transmissões ao vivo, tenda gamer, futebol de botão, pipoca, algodão-doce, cobertura fotográfica e equipe oficial de narração.

No feminino, houve apenas 2 caravanas, sem cobertura equivalente e sem nenhuma dessas ativações.

A caravana realizada no CT Santa Cruz, voltada às meninas, nem sequer foi registrada pela organização.

O feminino ficou 3 meses sem nenhuma caravana, contando apenas com 1 caravana mista em toda a competição.

Toda a estratégia de mídia, engajamento e promoção foi dedicada majoritariamente ao masculino.

Por igualdade de gênero no esporte

Reivindicamos uma organização comprometida com:

  • responsabilidade,
  • equidade de condições,
  • desenvolvimento da base feminina,
  • respeito às atletas.

A igualdade de gênero não é um pedido: é um direito.

E a Taça SP, como uma das maiores vitrines da formação esportiva, tem o dever de garantir que meninas e meninos recebam as mesmas condições, a mesma visibilidade e as mesmas oportunidades.

O futebol feminino exige e merece ser tratado com seriedade, dignidade e prioridade.

Foto: Divulgação

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