Nem toda pesquisa inaugura um fenômeno. Algumas apenas dão um selo de oficialidade ao que quem está no campo de chuteiras ou de crachá já sente no dia a dia.
Nos últimos dois anos, tenho observado um movimento silencioso, mas potente: a entrada definitiva do público masculino no consumo do futebol feminino.
E não falo de curiosidade passageira. Falo de repertório.
Da conversa no táxi ao Boardroom
Essa percepção não nasceu em dashboards de Power BI; ela nasceu na vida real. Em conversas com pais na porta da escola, com motoristas de aplicativo e taxistas.
Muitas vezes, faço um “teste cego”: começo falando de futebol em geral. Quando o assunto migra para a modalidade feminina, a surpresa: eles conhecem as atletas. Sabem quem são as Brabas. Discutem leitura tática, dinâmica de jogo e o resgate daquele “futebol raiz” que muitos sentem falta no masculino.
Ontem, a caminho da premiação do Paulistão Feminino da FPF, ouvi de um taxista: “Eu gosto de assistir porque o jogo flui, a dinâmica é outra, dá prazer de ver.”
Isso não é um ponto fora da curva. É um novo padrão de consumo.
Os dados que validam o “feeling”
A intuição agora tem números. Uma pesquisa global da Parity + SurveyMonkey confirmou: 75% dos homens já consomem esportes femininos regularmente.
Mas o mercado financeiro foi além da audiência. O capital de risco já carimbou essa tese. Quando Alexis Ohanian (cofundador do Reddit) investiu no Chelsea FC Women em maio de 2025, ele não o fez por filantropia. Ele o fez porque enxerga uma franquia de bilhões de dólares.
Para Ohanian, o futebol feminino é o produto global capaz de furar bolhas e conquistar mercados que o masculino já saturou.
Oportunidade vs Resistência
Ainda existe barulho nas redes sociais? Sim. Mas o estádio conta outra história. Hoje, o futebol feminino tem homens na arquibancada, na imprensa independente e na cobertura especializada. Isso não descaracteriza a modalidade; isso a escala.
O recado para marcas, clubes e CMOs é urgente:
- O público “core” (comunidade fiel) é o alicerce e deve ser respeitado.
- O público “expandido” (novos entrantes, incluindo homens) é o motor de crescimento.
- A visibilidade abriu o caminho. A pesquisa confirmou a demanda. O investimento validou o business.
- O jogo já mudou. A pergunta agora é: você vai liderar essa transformação ou vai esperar o mercado saturar para tentar entrar?
Suleima Sena Fundadora do Donas FC | Estrategista de Futebol Feminino




