Durante décadas, o futebol feminino foi tratado como um “anexo” do masculino. Estrutura compartilhada, orçamento residual, decisões centralizadas em departamentos que não tinham a modalidade como prioridade. Esse modelo até permitiu sobrevivência. Mas nunca gerou valor real.
Em 2025, os números finalmente escancaram essa virada.
Um relatório recente da Forbes mostra que clubes de futebol feminino que controlam seus próprios ativos estádios, direitos comerciais e governança, estão sendo avaliados com múltiplos significativamente mais altos do que aqueles que ainda operam de forma dependente das estruturas masculinas.
Os números da Forbes em 2025: o futebol feminino entrou na era do valuation
Pela primeira vez, a Forbes apresentou uma avaliação robusta do mercado de clubes femininos, com foco na National Women’s Soccer League (NWSL), hoje o ecossistema mais maduro do futebol feminino global.
Dados-chave (Forbes, 2025):
Valor total das 14 franquias da NWSL: quase US$ 2 bilhões
Valor médio por clube: US$ 134 milhões
Nenhuma equipe avaliada abaixo de US$ 70 milhões
Os destaques do ranking revelam muito mais do que sucesso esportivo.
Os clubes femininos mais valiosos em 2025
| Rank | Clube | Liga | Valor de Mercado | Receita |
| 1 | Angel City FC | NWSL (EUA) | US$ 280 M | US$ 35 M |
| 2 | Kansas City Current | NWSL (EUA) | US$ 275 M | US$ 36 M |
| 3 | Arsenal | WSL (ING) | US$ 260 M | US$ 19 M |
| 4 | Barcelona | Liga F (ESP) | US$ 255 M | US$ 19 M |
| 5 | Chelsea | WSL (ING) | US$ 250 M | US$ 25 M |
| 6 | Bay FC | NWSL (EUA) | US$ 250 M | US$ 21 M |
| 7 | San Diego Wave | NWSL (EUA) | US$ 165 M | US$ 24 M |
| 8 | Washington Spirit | NWSL (EUA) | US$ 130 M | US$ 15 M |
| 9 | Portland Thorns | NWSL (EUA) | US$ 120 M | US$ 17 M |
| 10 | Manchester United | WSL (ING) | US$ 115 M | US$ 12 M |
O fator decisivo: quem controla os ativos, controla o valor
Quando analisamos os clubes mais valiosos do futebol feminino em 2025, o padrão é claro:
- Governança própria
- Controle integral das receitas comerciais
- Autonomia sobre matchday, patrocínios e ativações
- Marca feminina tratada como produto principal
O Kansas City Current é o exemplo mais simbólico desse novo paradigma. Em 2024, o clube inaugurou o primeiro estádio do mundo construído exclusivamente para uma equipe profissional feminina. Resultado? Um salto imediato de valuation.
O estádio não é apenas um espaço físico. Ele representa:
- Receita recorrente de matchday
- Naming rights próprios
- Programação independente de eventos
- Dados diretos sobre público e consumo
- Isso gera previsibilidade.
- Previsibilidade gera confiança.
- Confiança gera valuation.
Angel City FC: quando marca, comunidade e negócio se encontram
O Angel City FC, clube mais valioso do ranking da Forbes, é outro exemplo de como o futebol feminino pode ser estruturado como ativo estratégico.
Com um grupo de investidores de alto perfil, governança clara e posicionamento forte junto à comunidade, o clube construiu um modelo baseado em:
Engajamento local e cultural
Patrocínios alinhados a valores
Forte presença digital
Independência comercial
O sucesso do Angel City não está apenas no capital investido, mas na forma como o clube entende seu público e monetiza essa relação.
O outro lado da equação: quando a dependência limita o crescimento
Em contraste, clubes femininos que compartilham orçamento com o masculino, não controlam seus direitos comerciais,dependem de decisões estratégicas externas, acabam presos a valuations mais baixos, mesmo quando têm bom desempenho esportivo.
Isso acontece porque, para o mercado, esses clubes não são vistos como ativos independentes. São vistos como linhas de custo ou projetos acessórios.
E investidores não pagam múltiplos altos por ativos que não controlam seus próprios fluxos de receita.
O que a Europa começa a entender (e o Brasil precisa discutir)
Na Europa, o movimento ainda é mais lento, mas já existem sinais claros de mudança. O caso do Olympique Lyonnais Féminin, agora sob controle da Kynisca Sports (de Michele Kang), aponta para um futuro de maior independência estrutural, expansão comercial própria, visão global da marca feminina. No Brasil, o debate ainda gira muito em torno de “apoio” e “obrigação”.
Pouco se fala de: autonomia, valuation, governança própria, sustentabilidade financeira real. E isso é um erro estratégico.
Futebol feminino não precisa ser protegido. Precisa ser estruturado.
Os dados da Forbes em 2025 deixam um recado claro para clubes, federações, marcas e investidores:
- O futebol feminino não cresce porque alguém ajuda. Ele cresce quando alguém estrutura.
- Autonomia não é ruptura. Autonomia é amadurecimento.
- Quem continuar tratando o futebol feminino como extensão vai ficar para trás.
- Quem entender que ele é um produto com lógica, público e economia próprios vai liderar a próxima década.
- E os valuations já estão mostrando isso.
Foto: Jay Biggerstaff/NWSL/Getty Images





