
A equidade de gênero no esporte não é apenas uma questão de justiça social, mas uma necessidade premente para o desenvolvimento sustentável das modalidades esportivas, em especial o futebol.
Embora os avanços sejam notáveis, há um longo caminho a ser percorrido para garantir que mulheres e homens tenham as mesmas oportunidades, condições e reconhecimento no cenário futebolístico.
Os clubes de futebol desempenham um papel central nesse processo e podem ser a chave para acelerar essa mudança.
Nos últimos anos, vimos movimentos e ações importantes em prol da igualdade de gênero, como a profissionalização do futebol feminino em diversas ligas ao redor do mundo e o crescente apoio das torcidas.
No entanto, a sustentabilidade desse crescimento depende, em grande parte, do comprometimento dos clubes em transformar suas estruturas e políticas internas, criando um ambiente inclusivo e equitativo.
Os clubes de futebol, com suas histórias centenárias e suas vastas redes de influência, são atores fundamentais no avanço da equidade de gênero. São eles que controlam a formação de atletas, a gestão de equipes e as relações comerciais que impulsionam o futebol como negócio e como paixão global.
Quando falamos de equidade, nos referimos não apenas à criação de times femininos competitivos, mas a um compromisso holístico com a valorização do futebol feminino.
Isso inclui o investimento em infraestrutura de qualidade, capacitação de treinadores, suporte psicológico e físico para as atletas, e a promoção das competições com o mesmo empenho destinado às equipes masculinas.
A presença e visibilidade da mulher em todas as esferas do clube – desde a presidência até os cargos técnicos – são essenciais para a transformação cultural.
Exemplos Inspiradores
Clubes como o Barcelona e o Lyon são exemplos de como esse compromisso pode ser colocado em prática.
Ambos investem de forma significativa em suas equipes femininas, não apenas em termos financeiros, mas também promovendo integração, respeito e valorização do talento feminino.
O resultado é evidente: as equipes femininas desses clubes são dominantes no cenário mundial e têm atraído milhões de novos fãs para o futebol.
No Brasil, clubes como o Corinthians, Ferroviária e São Paulo também têm dado passos importantes, investindo não apenas nas equipes principais, mas em categorias de base e ações de marketing específicas para promover o futebol feminino.
Esses exemplos mostram que a equidade de gênero é possível e viável, desde que o clube a trate como parte de sua estratégia a longo prazo.
O Que Ainda Falta?
Apesar dos exemplos positivos, muitos clubes ainda tratam o futebol feminino como um “apêndice” das suas atividades principais, dedicando a ele recursos limitados e falta de visibilidade.
As atletas, muitas vezes, ainda enfrentam disparidades salariais gritantes, menos acesso a estrutura de ponta e menor cobertura midiática.
A equidade de gênero no futebol exige que os clubes não só criem as oportunidades, mas que assegurem que essas oportunidades sejam justas e sustentáveis.
Além disso, a formação de uma nova geração de atletas femininas passa por um trabalho forte de base, com escolinhas de futebol para meninas, desenvolvimento de talentos e suporte ao longo de toda a carreira.
Isso exige que os clubes sejam proativos e atuem para desconstruir preconceitos e estigmas de gênero que ainda afetam o esporte.
Os clubes de futebol têm nas mãos o poder de mudar o jogo para sempre. Com políticas inclusivas, investimentos estruturais e um comprometimento real com a equidade de gênero, eles podem criar um ambiente onde o talento feminino floresça, impulsionando o crescimento e a diversidade no esporte.
A mudança começa com ações locais, mas reverbera globalmente. E os clubes de futebol têm a oportunidade de liderar essa revolução. Vamos continuar torcendo para que cada vez mais clubes percebam que o futuro do futebol é equitativo – e que vale a pena lutar por ele.
Credito Foto-Getty Image
Suleima Sena
Jornalista, Fundadora do Donas FC, autora de Trivela e sem firulas ;cenas de amor futebol e outras histórias e Donas do Jogo