
O crescimento do futebol feminino no Brasil e no mundo é inegável. O número de atletas aumentou, a audiência subiu e a qualidade do jogo conquistou novos fãs. No entanto, em meio a essa evolução, um ponto essencial ainda é negligenciado por muitos clubes: o investimento na formação de base.
Infelizmente, diversos clubes preferem concentrar esforços e rios de dinheiro em contratações de alto custo, mirando resultados imediatos, em vez de elaborar um plano estratégico para desenvolver suas categorias de base. Essa abordagem, embora traga retorno a curto prazo, compromete a sustentabilidade e o potencial lucrativo do futebol feminino a longo prazo.
A Realidade Atual
A base é o alicerce de qualquer projeto esportivo bem-sucedido. No futebol masculino, essa lição foi aprendida ao longo de décadas. Grandes jogadores, como Neymar, Endrick e Vinícius Jr., foram revelados em categorias de base bem estruturadas e trouxeram retorno esportivo e financeiro significativo para seus clubes formadores. Por que não replicar esse modelo de sucesso no futebol feminino?
Apesar do crescimento visível, poucos clubes investem de forma consistente em centros de formação para meninas. Muitos ainda veem a base como um custo, e não como um investimento essencial para garantir o futuro. A consequência dessa mentalidade é a repetição de ciclos caros e pouco sustentáveis: equipes que gastam grandes somas em contratações para se manterem competitivas sem criar um pipeline de novas jogadoras talentosas.
Construindo a Sustentabilidade
Investir na base vai além de formar atletas. Trata-se de desenvolver profissionais completas, fortalecer a identidade do clube e criar um legado. Clubes que apostam em estratégias robustas de base conseguem:
• Reduzir custos a médio e longo prazo, diminuindo a necessidade de grandes contratações;
• Gerar retorno financeiro com a venda ou transferência de atletas formadas internamente;
• Fomentar o engajamento de torcedores, que se identificam com histórias de jogadoras reveladas “em casa”.
No cenário internacional, exemplos como o FC Barcelona, que investiu na formação de jogadoras para consolidar sua equipe feminina, mostram como a visão estratégica compensa. O clube não apenas conquistou títulos importantes, como também se tornou uma referência mundial de gestão no futebol feminino.
Oportunidade no Brasil
A Copa do Mundo de 2023 e os Jogos Olímpicos de Paris 2024 deram visibilidade ao talento brasileiro, mas é preciso mais do que resultados pontuais para consolidar um futuro brilhante. O Brasil é um celeiro natural de talentos. No entanto, sem estruturas adequadas de base, corremos o risco de desperdiçar essa vantagem competitiva.
Clubes, federações e patrocinadores devem se unir para construir planos consistentes que priorizem o desenvolvimento desde as categorias de base. A criação de competições nacionais de base, programas de capacitação para treinadores e investimento em instalações apropriadas são ações fundamentais para alavancar a modalidade.
O futebol feminino não precisa apenas de apoio. Precisa de visão estratégica e de gestores comprometidos com o longo prazo. Sem base, não existe futuro. O momento de agir é agora. O verdadeiro legado não é apenas o que construímos hoje, mas o que deixamos para as próximas gerações de atletas.
Que o futebol feminino tenha a base sólida que merece para sustentar um futuro de conquistas e crescimento sustentável.
Fábio Souza/CBF
