Por Marina Figueiredo
Por anos, nas escassas oportunidades de se falar sobre o futebol de mulheres, a palavra era reservada aos homens. Não éramos protagonistas nem para falar sobre nós mesmas, apesar de, como bem pontuado na última sexta-feira, o esporte sempre ter sido praticado por mulheres no país. Ser convidada para falar sobre a próxima Copa do Mundo FIFA de 2027 no Brasil no CONAFUT Summit, e perceber que eu não era a única a compor as mesas de discussão, foi revigorante.
É possível percebermos um certo estranhamento de muitos ao chegarmos em qualquer discussão sobre o futebol. Ainda somos uma minoria nesses espaços ou em posições de decisão. Porém, é inegável que estamos ocupando as posições de destaque no universo futebolístico. Cada vez mais somos convidadas a compartilhar nossas experiências, nosso conhecimento e, sim, nossas percepções e opiniões.
Podemos falar, com propriedade, do nosso desempenho em campo, da nossa filosofia e modelo de jogo, do nosso planejamento de treinos, dos cuidados com a saúde de atletas, das regras do jogo, da gestão das equipes, da gestão do esporte e das instituições e tantas outras funções relacionadas à prática do futebol. Podemos falar sobre o futebol de mulheres e de homens, e sobre o esporte que mobiliza paixões ao redor do mundo.
Se ainda existe alguma dúvida sobre o interesse da torcida brasileira pelo futebol feminino, os números demonstram o alcance da nossa modalidade. A final da CONMEBOL Copa América 2025 alcançou 33 milhões de brasileiros, sendo transmitida na TV aberta. A final do Brasileirão Série A1 registrou um público de 44.529 torcedores no estádio. O último amistoso da Seleção Brasileira Feminina principal em São Paulo foi acompanhado por 33.325 pessoas. E nosso querido Mineirão, minha casa em tantos jogos e grandes eventos, uma das sedes da próxima Copa do Mundo FIFA, detém o terceiro maior público em competições da nossa Seleção, quando 52.660 pessoas torceram pelas nossas atletas nas quartas de final dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
O sucesso do CONAFUT Summit 2025 pode ser creditado à diversidade de temas e também à diversidade de palestrantes e participantes. Especialmente para mim, que trabalho com o futebol feminino, falar sobre os caminhos até 2027 e o legado de um grande evento para nosso presente e futuro, ao lado dos competentes gestores das grandes equipes mineiras, Bárbara Fonseca, Daniel Paiva e Ricardo Guedes, mediado por Líbia Macedo, para uma sala cheia, reforça que o trabalho que todos temos nos dedicado a fazer vale a pena.
Que o futebol de mulheres vai, sim, ocupar o espaço que merece na cultura esportiva brasileira e que as mulheres já são realidade no país do futebol.
Foto; Micail Messias
