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“Queremos Apenas o que é Nosso Direito”: Jogadoras do Avaí Kindermann Desabafam Sobre Salários Atrasados e Falta de Transparência

Por Suleima Sena – Donas FC

Crise Expõe a Fragilidade Estrutural do Futebol Feminino no Brasil

 

A crise no Avaí Kindermann escancara, mais uma vez, as fragilidades de gestão que ainda marcam o futebol feminino brasileiro. Em meio à disputa da final do Campeonato Catarinense, as jogadoras vivem um drama fora de campo: salários atrasados, desgaste emocional e a ausência de respostas concretas.

Em entrevista exclusiva ao Donas FC, uma jogadora que pediu para não ser identificada revelou o cansaço do elenco e o sentimento de abandono:

“A situação do nosso time hoje é extremamente grave. Estamos todas mentalmente esgotadas. É triste ver a situação que estamos vivendo. Todas nós continuamos trabalhando, treinando, jogando, se dedicando — e não temos o mínimo, que é o nosso salário. Não estamos pedindo nada além do nosso direito. Trabalhamos e queremos receber.”

Falta de Transparência Aumenta a Indignação

 

Segundo a atleta, o grupo só soube recentemente que a responsabilidade financeira seria da Associação Esportiva Kindermann, e não do Avaí. A notícia, longe de aliviar, gerou ainda mais revolta entre as jogadoras.

“Ficamos sabendo dessa responsabilidade do Kindermann nesta última semana. Antes disso, ninguém tinha a menor ideia de nada. Mas isso, pra mim, é indiferente. Continuamos representando o Avaí, vestimos a camisa do Avaí, estamos na final do Catarinense e o nome que está na final é Avaí Kindermann. Se a responsabilidade salarial é do Kindermann ou do Avaí, não me importa. O que me importa é que algum dos dois vai ter que nos pagar.”

O sentimento de engano e falta de comunicação também foi destacado: “O Avaí hoje está tirando a culpa dele, mas poderiam ter sido transparentes com a gente. Absolutamente ninguém de nós sabia disso. Se eles tivessem sido sinceros e falado que já tinham dado o valor acertado e que não iriam mais pagar, poderíamos todas nós hoje estar em outro time, em paz, sem estar nessa situação deplorável. Aí que tá: também não sabemos se isso foi falado para a diretoria do Kindermann e eles que encobriram. Não sabemos. Não sabemos de nada.”

Protesto em Campo e Pedido por Dignidade

 

Mesmo diante dos atrasos e da incerteza sobre o futuro, as jogadoras seguem treinando e disputando partidas. No último domingo (12), o elenco entrou em campo com uma faixa onde se lia: “Paguem nosso salário.”

O ato pode gerar punição segundo o regulamento da Federação Catarinense de Futebol (FCF), mas foi interpretado por torcedores e colegas de profissão como um gesto legítimo de resistência e coragem. “O protesto é justamente por isso. A gente quer receber. Queremos nosso salário, não importa quem for pagar.”

Entenda o Caso Avaí Kindermann

 

O que aconteceu As jogadoras denunciaram atrasos salariais que chegam a quatro meses. Comissão técnica, fornecedores e prestadores de serviço também relatam débitos acumulados há mais de cinco meses.
Responsabilidade dividida O Avaí afirmou, em nota oficial, que a gestão do futebol feminino é de total responsabilidade da Associação Esportiva Kindermann, sediada em Caçador (SC). Até o fechamento desta matéria, o Kindermann não havia se manifestado.
A parceria Firmada em 2019, a parceria entre Avaí e Kindermann manteve o clube entre as principais forças do futebol feminino nacional, chegando a disputar Libertadores e revelando talentos para a Seleção Brasileira. O acordo previa o uso da marca Avaí e o repasse de recursos para o custeio da equipe.
Possíveis punições De acordo com o regulamento da FCF, manifestações políticas ou administrativas dentro de campo podem gerar multa ou sanções. Apesar disso, o ato das jogadoras recebeu apoio massivo nas redes sociais e reacendeu o debate sobre as condições de trabalho das atletas no Brasil.
Cenário atual O elenco segue treinando para a final do estadual, mas o ambiente é de incerteza e indignação. As atletas exigem o pagamento imediato dos salários e respeito à sua dignidade profissional.

 

Entre o Silêncio Institucional e a Força das Atletas

 

O caso Avaí Kindermann não é isolado. Ele reflete um sistema que ainda falha com as mulheres do futebol: falta de governança, parcerias frágeis e descaso institucional. Mesmo em um país que se prepara para sediar a Copa do Mundo Feminina de 2027, as atletas ainda precisam lutar pelo básico  o direito de receber pelo trabalho que realizam.

Enquanto o Avaí Kindermann tenta manter o foco dentro de campo, fora dele o grito das jogadoras ecoa mais alto: respeito, transparência e dignidade.

O Donas FC segue acompanhando o caso e reforça seu compromisso com a integridade, a justiça e a valorização das mulheres no futebol.

 

Foto: Mauricio Figueirò

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