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Gestão, base e legado: Brasil Ladies Cup discute o futuro do futebol feminino

Ana Lorena, Camila Estefano e Suleima Sena

A 5ª edição da Semana de Desenvolvimento da Brasil Ladies Cup, realizada nesta sexta-feira, 17, em São Paulo, reuniu grandes nomes do futebol feminino para debater o tema Tendências e Oportunidades que Moldam o Futuro do Futebol Feminino no Brasil.

O painel, mediado por Ricardo Alves (Gestor Esportivo), contou com a participação de Ana Lorena, coordenadora de futebol feminino, Camila Estefano, fundadora do projeto Em Busca de uma Estrela, e Suleima Sena, CEO do Donas FC. O encontro foi marcado por reflexões sobre profissionalização, formação de base e o legado que a Copa do Mundo Feminina de 2027 pode deixar para o país.

Logo no início, Ana Lorena destacou a importância da presença das mulheres em espaços de decisão e a necessidade de aproveitar o momento histórico que o futebol feminino vive. Segundo ela, “o importante é ter todos esses espaços, tudo que a gente puder fazer e falar sobre futebol feminino até 2027. Acho que isso vai ser fundamental para a gente ter uma melhor qualidade de vida e transformar o futebol feminino do Brasil”.

Ela também reforçou que o fortalecimento da modalidade passa pela consolidação dos clubes e pela estrutura de gestão. “Sem clube, não existe futebol. E o clube é algo importantíssimo, principalmente no Brasil. A cultura esportiva do país é voltada para as entidades, e são elas que sustentam o esporte”, observou.

Camila Estefano trouxe a visão de quem vive o dia a dia da base e da formação. Para ela, o desenvolvimento do futebol feminino depende diretamente da profissionalização. “Os clubes que estão conseguindo movimentar o futebol, trazer receita e encher estádios são os que têm uma gestão profissional. Quando você investe, o resultado vem”, afirmou.

A ex-jogadora destacou também que o trabalho precisa de planejamento e continuidade. “Os clubes precisam ter gestão de receitas e uma visão de longo prazo. Quando se trabalha com foco, comunicação e investimento, o crescimento vem naturalmente”, acrescentou.

Suleima Sena reforçou a importância de olhar o futebol feminino com visão de mercado e não apenas como uma pauta de igualdade. “Para mim, o futebol feminino é um mercado. Não é apenas um movimento pela igualdade. Quando a gente aumenta a visibilidade da modalidade, movimenta todo um ecossistema”, explicou. Para a jornalista, o crescimento da modalidade abre oportunidades econômicas que precisam ser aproveitadas de forma estratégica.

Formação de base e oportunidades sociais

As palestrantes também destacaram o papel fundamental da formação e dos projetos sociais. “A formação é o primeiro degrau da escada longa do futebol feminino. Parece uma coisa básica, mas o Brasil ainda está muito atrás, principalmente nas categorias de base. Quando você investe desde cedo, o retorno vem”, defendeu Camila.

Suleima complementou lembrando que a base do esporte muitas vezes nasce fora dos grandes clubes. “Um projeto social é a porta de entrada. Ou vocês acham que a menina vai começar a jogar futebol em um clube com categoria sub-12? É ali que o talento começa a aparecer”, afirmou.

Ana reforçou a necessidade de capacitar profissionais para trabalhar com meninas e mulheres, entendendo as particularidades do esporte feminino. “A gente precisa formar mulheres líderes, mulheres em cargos de comando. E capacitar profissionais que entendam o contexto e as especificidades do futebol praticado por meninas”, destacou. Para ela, a falta de profissionais preparados ainda é um obstáculo que precisa ser enfrentado para garantir a continuidade da modalidade.

O legado da Copa do Mundo de 2027

Com a Copa do Mundo Feminina de 2027 confirmada no Brasil, as participantes alertaram para a importância de planejar o legado que o evento pode deixar. Ana Lorena comparou o que ocorreu em outros países e chamou atenção para o pós-torneio. “A Copa é um tsunami chegando. A gente precisa se preparar para aguentar o que vem e, principalmente, pensar no pós. O que vai acontecer com as meninas que vão querer praticar o esporte depois?”, questionou.

Suleima compartilhou a mesma preocupação. “A minha preocupação é no dia 26 de julho de 2027. É o legado que essa Copa vai deixar. Quantas mulheres terão cargos de liderança? Quantas meninas vão estar jogando futebol e tendo a possibilidade de entrar em um clube?”, disse.

Camila acrescentou que é fundamental descentralizar o futebol feminino e expandir as oportunidades fora dos grandes centros. “A gente precisa profissionalizar cada vez mais o futebol feminino e todas as esferas, nos profissionais envolvidos, na atenção para as atletas, nas estruturas, investimento, na visão de longo prazo”, reforçou.

Encerrando o painel, Suleima trouxe uma mensagem de otimismo sobre o futuro da modalidade. “O futebol feminino não é uma onda, não é um momento, é um movimento. Vamos nos envolver, mídia, clubes, federações e marcas, e olhar o ativo que temos. Quando investimos em futebol feminino, estamos investindo em liderança e em diversidade. O momento é agora”, declarou.

Suleima Sena
Suleima Sena

Fotos: Theo Daolio

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