
Por: Daniela Santos
Nesta sexta-feira, 30, foi realizado o Match Day, evento promovido pelo Movimento Sustentabilidade em Campo. O bate-papo aconteceu na Neo Química Arena, antes do amistoso de futebol feminino entre Brasil e Japão, e foi mediado pela CEO Bianca Venturotti. Participaram da conversa Milene Domingues, Dennis Nakamura, Camila Estefano, Sandra Santos e Suleima Sena, em uma discussão sobre a importância de investir no futebol feminino.
“O esporte no geral ele ensina muito, salva-vidas e te dá valores, porque traz, além de saúde, uma educação diferenciada, você aprende ter valores dentro do esporte que em outro lugar você não aprenderia e que depois você leva isso para tua vida. No futebol feminino, além de tudo isso, por ser mulher, temos que mudar uma cultura. Uma mulher antigamente não tinha o papel de estar dentro de campo, dentro do esporte, isso mudou, só que precisa de mudança cultural e a mudança cultural vem com a educação”, disse a ex-jogadora de futebol Milene Domingues.
“Não podemos somente levantar uma bandeira, precisamos educar as pessoas, tem que falar o porquê. Por que hoje em dia as mulheres podem e antigamente não? São outros tempos. Através da educação a gente tem mudado muito”, acrescentou ela, recordando que quando era atleta não conseguia viver apenas de futebol. “Todo mundo tinha um trabalho à parte porque não dava para viver de futebol feminino.”
Milene também pontou sobre os valores investidos na modalidade.
“O futebol feminino trabalha com cifras muito diferentes do futebol masculino… Temos que ter essa consciência de que as cifras de agora, há dois anos da Copa do Mundo Feminina, será um número, no ano que vem será outro e na Copa do Mundo, obviamente, será outro. Então quem se engajar hoje com a modalidade, além de estar mudando vida de atletas, de mulheres, de meninas, mais do que investidor, será parceiro. Seu eu pudesse pedir algo, é para abrirem o coração, e verem a modalidade de uma forma diferente e terem a consciência de que o futebol feminino é um produto muito rentável. Só que agora é a hora, daqui a dois anos a cifra de investimentos vão ser diferente”, acrescentou.
Camila Estefano, gerente-geral do Em Busca de Uma Estrela, projeto social de formação de atleta de futebol feminino, falou sobre como é importante investir nas categorias de bases femininas. “Eu e a Sandra Santos cuidamos de um projeto social de inclusão de meninas e de igualdade de oportunidades. Há quatro, cinco anos, quando pensamos nesse projeto, percebemos que o futebol feminino tinha muita carência de investimento, estrutura e visibilidade, mas a base muito mais. Se você não tem base, como você constrói um time vencedor, um clube vencedor? Vai ter que estar sempre comprando jogadoras, gastando dinheiro ao invés de investir no desenvolvimento de meninas”, comentou.
Ela também falou sobre poucos clubes trabalharem com categorias de bases sub-10. “Vamos atuar nesse lugar que está precisando com urgência. E a gente percebe a diferença das meninas novas e agora com 13, 14, 15 anos, o Corinthians, a Ferroviária, o São Paulo, o Palmeiras estão levando porque são meninas diferenciadas. Nós temos uma formação integral, um cuidado socioemocional, um cuidado com a saúde mental. A gente acredita demais no desenvolvimento, cada vez mais focado na base e cada vez mais cedo. Ela tem que está se desenvolvendo em um ambiente saudável e com uma metodologia criada para a menina atleta”, falou Camila.
Dennis Nakamura destacou que o futebol feminino deve ser encarado também como um negócio, e por isso é essencial investir em estratégias para consolidar a modalidade. “Cada esporte tem seu ecossistema e aqui não é diferente. Estamos investindo aqui porque dá para colher frutos”, pontuou.
Durante o bate-papo, também foi abordado a importância desenvolver a modalidade e contribuir para a capacitação profissional das meninas. Sandra Santos, que até o ano passado foi diretora de Políticas de Futebol e de Promoção do Futebol Feminino no Ministério do Esporte, relembrou que durante sua passagem pelo governo, ela liderou o projeto para desenvolver o futebol feminino no país e, ao conseguir trazer a Copa do Mundo de 2027 para o Brasil, deixar um legado para a sociedade. O plano não é apenas formar atletas, mas ampliar a visão que elas têm de mundo. “Não vai todo mundo virar atleta e o que além de atleta essas mulheres vencedoras podem impactar no país?”, ressaltou ela, que é Co-Fundadora do Instituto Brasileiro de futebol feminino, um projeto com o intuito de desenvolver meninas no futebol e capacitar profissionais.
Outro ponto fundamental é dar visibilidade para o futebol feminino. Além da televisão, outros meios de comunicação estão divulgando e compartilhando conteúdos sobre a modalidade. Atualmente é possível acompanhar os jogos e as notícias no YouTube e também nas redes sociais.
“O futebol está em expansão, é uma realidade… E a gente já provou que o futebol feminino pode ser rentável. Já vimos o Corinthians colocar 44 mil pessoas aqui para assistir a um jogo de futebol feminino domingo pela manhã, para ver as mulheres jogando futebol, no Morumbi 28 mil pessoal para ver o São Paulo, isso é a cultura que se constrói diariamente… O futebol feminino também tem boas histórias”, complementou Suleima Sena, jornalista e fundadora do Donas FC.
