
Por Suleima Sena
O futebol feminino no Brasil vive um período de crescimento notável, impulsionado pelo aumento do interesse do público, mais investimentos e maior visibilidade na mídia. Segundo pesquisa da consultoria Sponsorlink, do Ibope Repucom, o interesse pela modalidade cresceu 34% nos últimos cinco anos. Entre as mulheres, o número de torcedoras saltou de 37,2 milhões em 2018 para 46,7 milhões em 2023, um aumento de 26%.
Esse avanço se reflete também no campo econômico. Clubes como o Corinthians referência na modalidade já conseguem transformar bilheteria em receita relevante: apenas na primeira fase do Brasileirão Feminino 2024, o clube arrecadou mais de R$ 300 mil, sendo o único a lucrar com ingressos nessa etapa da competição.
O show das finais
Nos últimos três anos, o Campeonato Brasileiro Feminino Série A1 registrou públicos históricos, todos protagonizados pelo Corinthians, dono dos quatro maiores públicos da história da competição.
2024 Corinthians 2×0 São Paulo (Neo Química Arena) 44.529 torcedores (recorde da competição)
2023 Corinthians 2×1 Ferroviária (Neo Química Arena) 42.566 torcedores (recorde sul-americano na época)
2022 Corinthians 4×1 Internacional (Neo Química Arena) 41.070 torcedores
Esses números são vitrine para o potencial da modalidade, mas também escancaram um contraste: a realidade semanal ainda é bem diferente.
O outro lado da moeda
Fora das finais e grandes clássicos, a média de público do Brasileirão Feminino A1 ainda é modesta. Muitos jogos, mesmo decisivos, reúnem menos de mil torcedores. As causas são múltiplas:
Horários ruins: partidas em dias úteis, no meio da tarde, afastam o torcedor.
Concorrência com o futebol masculino: jogos femininos marcados no mesmo dia e horário de partidas masculinas reduzem a atenção da torcida.
Estádios mal localizados ou de difícil acesso: o caso recente de Cruzeiro x Corinthians pela Copa do Brasil Feminina é emblemático. A partida, que poderia atrair um grande público, foi marcada para um estádio distante e de acesso complicado. Além disso, houve mudança repentina do horário de 19h30 para 16h30 por decisão da emissora, prejudicando torcedores e imprensa.
Exemplos que funcionam
A reta final do Brasileirão Feminino tem mostrado alternativas. Por exigência da CBF, clubes estão levando partidas para estádios de maior capacidade e estrutura. O Corinthians, por exemplo, vai atuar no Pacaembu em rodada do Paulista Feminino, já que não pode utilizar a Fazendinha o que cria oportunidade para atrair um público maior.
Outro caso positivo é o Cruzeiro Feminino, que, mesmo com as dificuldades, conseguiu dobrar sua média de público em pouco tempo: passou de cerca de 400 torcedores por jogo para 800, segundo a diretora Bárbara Fonseca.
O que falta para avançar
Para transformar o pico das finais em média ao longo da temporada, é preciso planejamento:
Definir um dia fixo para o futebol feminino, evitando concorrência com o masculino.
Escolher bons horários, que permitam o deslocamento do torcedor.
Priorizar estádios principais em jogos decisivos, reforçando a experiência do público.
Ampliar e antecipar a divulgação dos jogos, evitando mudanças de última hora.
Se as finais já provam que o torcedor está disposto a ocupar arquibancadas quando a experiência é bem pensada, o próximo passo é transformar esse entusiasmo em hábito para que o brilho do futebol feminino não se limite aos dias de decisão, mas seja rotina nos estádios brasileiros.