
Por Suleima Sena
Na última semana, uma fala direta e incômoda sacudiu o cenário do futebol europeu e ela veio de onde menos se esperava: da Bundesliga masculina. Dirk Zingler, presidente do Union Berlin, foi categórico ao denunciar a falta de profissionalismo no futebol feminino alemão:
“Todo clube profissional pode pagar suas jogadoras decentemente. Quando vejo que apenas 4 ou 5 dos 12 clubes da Bundesliga Feminina remuneram profissionalmente suas atletas, acho isso lamentável.”
Zingler não está falando apenas de responsabilidade social. Ele fala de coerência, visão de mercado e posicionamento estratégico. Sua crítica vai além da denúncia: ela escancara o abismo estrutural e mercadológico ainda existente entre o futebol feminino e masculino — mesmo em uma potência esportiva como a Alemanha.
Um mercado que precisa de investimento, não de caridade
A frase mais provocadora do dirigente berlinense talvez tenha sido esta:
“Não devemos tratar o futebol feminino como um esporte para pessoas com deficiência e dizer que precisa de programas especiais. Isso é bobagem.”
Por mais duro que pareça, há um fundo de verdade desconfortável: durante anos, o futebol feminino foi abordado quase exclusivamente sob o prisma do “apoio” ou da “solidariedade”. Mas isso precisa mudar. Se queremos profissionalismo, precisamos tratar o futebol feminino como negócio.
E foi exatamente sobre isso que discutimos no Women’s Soccer Legacy Summit, em Nova Iorque, durante o painel que mediei sobre marcas, posicionamento estratégico e o papel da comunicação. A mensagem foi clara: é preciso olhar para o futebol feminino com uma visão de mercado, de produto, de legado — e não apenas como uma pauta de responsabilidade social.
Por que isso importa?
1. Visão de futuro
A fala de Zingler é importante porque antecipa o futuro do esporte. O crescimento do futebol feminino é uma tendência global, e quem entender isso hoje colherá os frutos amanhã. Negligenciar o investimento agora é perder espaço competitivo e comercial.
2. Modelo de governança
Ao criticar seus colegas dirigentes, o presidente do Union Berlin rompe com o silêncio institucional. Ele se posiciona como um agente transformador dentro do sistema. Sua fala ecoa como um chamado para lideranças que desejam construir legados — e não apenas gerir rotinas.
3. Cultura de valorização
Jogar em estádios pequenos, sem visibilidade e sem remuneração adequada é incompatível com qualquer tentativa de construção de um mercado sustentável. Como afirmou Zingler, enquanto os jogos continuarem sendo disputados em estádios de academias juvenis, não há como esperar crescimento.
Oportunidade para marcas, clubes e federações
O futebol feminino não é um “projeto paralelo” — é um vetor de crescimento. Para clubes, é uma forma de ampliação de marca e novos públicos. Para patrocinadores, é terreno fértil para conexão com valores como diversidade, propósito, juventude e inovação. Para federações, é uma forma de renovar a base e aumentar o engajamento em múltiplas frentes.
Zingler não fala apenas com os clubes da Alemanha. Ele fala com todos nós, que atuamos com esporte, negócios e comunicação.