
O futebol feminino brasileiro vive um momento de crescimento e maior visibilidade, mas episódios como o que ocorreu nesta quinta-feira, durante a partida entre Bragantino e São Paulo pelo Paulistão Feminino, mostram que o caminho ainda é longo — e que o respeito às atletas não pode ser relativizado.
As jogadoras Aline Milene, do São Paulo, e Estela, do Bragantino, denunciaram o árbitro Juliano José Alves Rodrigues por falas machistas durante a condução da partida. São duas atletas com carreiras respeitáveis, reconhecidas não apenas pela qualidade técnica, mas também pela postura profissional dentro e fora de campo. Não há por que duvidar da palavra delas — há, sim, motivos de sobra para apurar com seriedade o ocorrido.
Se protocolos de conduta existem, eles devem ser seguidos. Se há diretrizes contra atitudes discriminatórias — e sabemos que há —, elas não podem ficar restritas ao papel. O futebol feminino não é espaço de favor, é de direito. E esse direito passa, necessariamente, por ambientes seguros, em que mulheres sejam tratadas com a dignidade que merecem como profissionais.
Não se trata de “sensibilidade exagerada”. Trata-se de uma questão estrutural: o machismo, quando silenciado, se naturaliza — e o futebol, infelizmente, ainda carrega muitos traços dessa herança. É exatamente por isso que, quando jogadoras se manifestam, precisam ser ouvidas com atenção e responsabilidade.
A federação precisa abrir investigação formal. É preciso ouvir todas as partes envolvidas, e se confirmadas as falas ofensivas, que medidas sejam tomadas. Sem blindagens. Sem impunidade.
Porque o futebol que queremos construir é grande demais para caber em práticas pequenas.